Escrito por Lucas Nunes Ogliari
Vanessa
sonhou com números. Levantou da cama e foi ao banheiro. Olho-se no espelho.
Ainda podia ver aqueles números.
A prova de matemática! É hoje, e eu não
estudei. Dor de barriga, febre!
Deus me adoeça, por favor. Como é que é
mesmo? Polímeros..., não, polimerônios, polissômios, é isso.
Clic.
Estabilizador ligado.
Vamos, carrega, carroça velha.
Google.
Po.., lis...,sô ,..., mi, ..., los.
Pronto.
Buscar.
Exibindo
resultados para polinômios.
Ah, era isso, polinômios.
Foi então que veio uma voz lá da
cozinha dizendo:
- Vanessa, já levantou?
- Já mãe.
- não vai perder a hora.
Hora!
Perder a hora, como é que alguém vai
perder a hora, que expressão mais boba. Quem inventou essa tal de hora. Odeio
relógio. As horas nunca me ajudam. Sempre corro atrás delas. Odeio o número
sessenta. Odeio as horas, os minutos e os segundos. Sessenta, sessenta,
sessenta. Que estupidez, porque não contam de dez em dez, de cem em cem? Vou
contar as horas de cem em cem. Não estou nem aí para os relógios, vou fazer meu
próprio horário. A cada cem segundos, vou contar um minuto, e a cada cem
minutos, vou contar uma hora. Vou chamar essa minha unidade de “cemgundos”.
- Mãããããe, quanto tempo eu ainda tenho?
- tem meia hora até o ônibus passar,
filha.
- Valeu, mãe.
Meia hora! Vejamos, isso me dá, no tempo
do relógio, trinta minutos, mas agora cada minuto tem cem cemgundos. Trinta
vezes cem... me dá... peraí! Minha hora tem cem minutos, então não são trinta
minutos, são cinqüenta minutos a cada meia hora? Milnutos, assim ficou melhor.
Cemgundos e milnutos. E a hora? Como posso chamar a minha hora? Cemgundos,
milnutos... E o dia? Tem vinte e quatro horas. As semanas têm sete dias. Os
meses têm quatro semanas, mais ou menos. Doze meses, um ano. Trezentos e
sessenta e cinco dias... aaaahhhhh. Odeio números. Está tudo trocado, que
confuso. Qual é a relação do sessenta, com vinte e quatro, com sete, com doze e
com trezentos e sessenta e cinco? Odeio matemática. Por que não facilitam as
coisas.
- Vavá, olha o horário.
- Tá mãe, estou pronta.
-
tem prova de matemática hoje, filha?
-
Ué, como é que você sabe, mãe?
- ...
Uuuuuuuurrrrhhhhhh!
Odeio números, odeio, odeio e odeio.
Infinitas vezes, odeio.
Tenho que correr, ou vou perder o
ônibus.
- vai com calma, e cuidado ao atravessar
a rua. Não vai tomar café?
- Não, né, mãe, não dá TEMPO. Tchau
- beijo filha.
Que movimento a essa hora.
Tá vindo um carro lá. Ele vem bem
devagar. Dá tempo de atravessar.
Se o carro está devagar, tenho mais
tempo... interessante. O tempo mudou? Será que aí caberiam os meus cemgundos e
milnutos? Se tudo fosse bem devagar eu teria mais tempo. Por que as coisas não
ficam mais devagar. Será que se todos os carros da rua andassem devagar eu
teria mais tempo para chegar à escola? Dããããh, sei lá! Olha só o tempo que eu
tive para atravessar a rua. Mas se os carros da rua da escola estão a mil por
hora? Ai me Deus, não vai dar tempo.
Continua...
Você sabe por que o tempo é medido assim?
O que é tempo? Já pensou sobre isso? Porque 60 segundos, 24 horas, 365 dias?
Você sabe o porquê disso tudo? Pesquise!
